Praia Jurássica

Um fundo do mar com cerca de 169 milhões de anos

19.03.2017

Uma zona do Maciço Calcário Estremenho, em pleno Parque Natural da Serra de Aire e Candeeiros, escondia vestígios de um fundo marinho datado do período Jurássico.

Esta área de 2.000m2 foi descoberta no início deste novo milénio, e divulgada ao público no final de 2013, numa pedreira desactivada há vários anos no concelho de Porto de Mós, distrito de Leiria. É na Pedreira do Cabeço da Ladeira, na freguesia de São Bento, antigamente explorada para a extracção de laje (pedras planas).

 

No Jurássico Médio, a região, na altura mais próxima do equador, estaria submersa por um braço de mar interior de pouca profundidade, com cerca de dois metros de espessura, com razoável luminosidade e sujeita a uma ondulação constante – testemunho do processo de separação da Península Ibérica e continente europeu relativamente à América do Norte – onde o clima era quente e húmido e a vegetação exuberante.

 

A evolução geológica fez com que esta região se afundasse constantemente, havendo a invasão por águas marinhas e o consequente depósito de sedimentos e lamas de calcário, permitindo o registo desses testemunhos paleontológicos a que se chamam icnofósseis. Muito mais tarde houve uma deformação destes estratos, resultando a elevação da serra de Aire e Candeeiros e o afundamento da Bacia Terciária do Tejo.

 

Hoje deparamo-nos com um mar de pedra, onde são visíveis as marcas de ondulação (ripple marks) que ficaram impressas no fundo carbonatado e nos últimos anos foram já encontrados perto de uma centena de fósseis de equinodermes como ouriços (equinóides), estrelas-do-mar (asteróides), lírios-do-mar (crinóides) e serpentes-do-mar (ofiuróides), bem como o rasto de ondas e de outros animais marinhos.

Equinodermes_Sol_LMM

Os especialistas explicam que a importância dos fósseis da jazida do Cabeço da Ladeira deve-se “ao estado de conservação e abundância dos moldes e restos fossilizados dos animais, sem equivalente no contexto geológico português. A ocorrência de restos fossilizados destes organismos não é rara. Raro é muitos desses restos ainda se encontrarem em semi-articulação, preservando a conexão anatómica original. Uma jazida deste género é mais uma peça para melhorar o conhecimento, uma fotografia parcial de um habitat daquele tempo.” (Bruno Pereira, especialista em equinodermes)

 

A raridade mundial desta jazida foi confirmada por Andrew Smith, investigador do Departamento de Paleontologia do Museu de História Natural de Londres – apenas se verificam estes tipo de vestígios, com características e idade semelhantes, noutro local da Suíça.