A Thing not an Object

ELEMENTAL

O estúdio Elemental está a desenvolver o conceito de uma peça para estar presente no espaço público e ser utilizada de forma lúdica, em especial pelos mais jovens. Propõe um equipamento com uma forma surpreendente, que remete para a ancestralidade do material, e que permite não só uma apropriação enquanto jogo ou brincadeira, mas também um contacto físico particular com a pedra.

 

A Thing not an Object, by Elemental

A Arquitectura é muito cara, até a mais modesta construção exige uma elevada soma de dinheiro, energia e conhecimento. É por isto que procuramos sempre projectar edifícios capazes de durar: fisicamente, funcionalmente e esteticamente. Como a natureza, é o grande mestre para sabermos como resistir ao teste do tempo. A natureza produz coisas, e não objectos. A diferença está em que uma coisa não tem necessidade de um projecto. Por exemplo uma pedra, se tiver um determinado tamanho e forma, pode funcionar como uma cadeira (um objecto) pelo momento em que alguém se senta nela. Mas quando nos levantamos e vamos embora, ela volta a ser uma coisa. A nossa tentativa é projectar de tal modo, que uma quantidade de matéria, se do tamanho e da forma correcta, possa transformar-se em arquitetura através da vivência, mas quando deixada sozinha regressa ao seu estado de coisa. Quanto mais primitivas forma as forças que compõem a forma de arquitetura, mais nos aproximamos da intemporalidade. Pelo menos é isso o que gostamos de acreditar. Assim, a concretude física do corpo, o senso comum ou a gravidade são o tipo de forças com que tentamos concordar ao definir a forma de matéria.

Para o programa Primeira Pedra, decidimos voltar atrás no tempo, não só em termos de uma forma primitiva de construção ou de estrutura aparente, mas também em termos de desenvolvimento da condição humana: a infância e o brincar. A nossa proposta centra-se em criar algo que agrada a esse momento em que os seres humanos vão da horizontal para a vertical, de deitados no chão para se erguerem sobre os seus pés, de gatinhar para caminhar. Há um momento, quando se passa para estar no topo das coisas, em que as crianças pequenas sentem um misto de medo e desejo inevitável. Conseguem alguma altura através de um gatinhar diagonal, na verdade não sobem degraus com os pés e agarram um corrimão, mas sim usando as mãos, pés, cotovelos, joelhos e todo o corpo. É essencialmente sobre como usar o tacto, mais do que as habilidades motoras do corpo. E uma vez que estão no topo, a gravidade desempenha de novo o seu papel: deslizando por uma inclinação é uma experiência de velocidade sem a necessidade de coordenação física. É um facto, não é uma habilidade.

Nossa proposta é a erodir um bloco de pedra (que no exterior deve permanecer áspero e com todas as cicatrizes do processo de extracção) de maneira a que quando experimentado pelos jogos das crianças se torne num escorrega. Num dos lados, poderíamos considerar esculpir um caminho para uma criança deixar cair um berlinde, um carrinho ou água para experimentar a gravidade e a escala da mão. As qualidades materiais e dimensões do mármore vão qualificar essa experiência atávica: textura, temperatura, luz, suavidade, apesar da sua densidade. As propriedades do mármore vão permitir que esta coisa se torne numa peça resistente, capaz de afastar os clichês, especialmente aqueles que gerem o design para crianças. Gostaríamos de ter estas coisas colocadas em espaços públicos ou recreios escolares, como elementos da paisagem. As crianças a brincar farão com que eles se tornam objectos, mas quando deixados sozinhos vão voltar para a natureza e gravidade, e simplesmente entrar em concordância com eles.